Jaques Wagner tem solidariedade de sete partidos contra ação de Dallagnol
A ação do procurador Deltan Dallagnol para prejudicar o petista Jaques Wagner (BA), ao se eleger senador pela Bahia, foi repudiada no Senado. Dez senadores de sete partidos foram à tribuna em defesa do ex-governador baiano e ex-ministro.
Otto Alencar (PSD-BA), que abriu o ato de desagravo, criticou a postura do Ministério Público Federal (MPF), que segundo ele planejava a ação sem “nenhuma prova material contra Jaques Wagner”. “Dallagnol diz nas suas mensagens: ‘Vamos fazer uma busca e apreensão simbólica’. E agora deve caber no Código Penal a busca e apreensão simbólica contra as pessoas. Isso é uma coisa contra a lei, acima da lei, acima do limite da lei, contra a Constituição. Infringiu a lei e a lei existe exatamente para limitar o poder. A Constituição existe exatamente para promover a justiça e não permitir o arbítrio”, afirmou.
Segundo informou a coluna de Mônica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo, no último dia 29, Dallagnol, da força-tarefa da Operação Lava Jato, queria a quatro dias do segundo turno “acelerar ações” contra o petista, como uma medida de busca e apreensão, “por questão simbólica”. A intenção seria constranger o então recém-eleito senador, que era coordenador da campanha presidencial do petista Fernando Haddad. A informação consta de mais um vazamento revelado pelo The Intercept.
Humberto Costa (PT-PE) defendeu a necessidade de o Senado adotar alguma ação institucional. O parlamentar pernambucano cobrou que a Procuradoria-Geral da República e o Conselho Nacional do Ministério Público façam a devida apuração do caso. Angelo Coronel (PSD-BA) e Kátia Abreu (PDT-TO) também se manifestaram nesse sentido.
Jaques Wagner agradeceu a manifestação dos colegas e lamentou a forma como as investigações estariam sendo feitas no país. Para ele, hoje, não se investiga o criminoso nem o crime, mas cria-se uma teoria de que alguém é criminoso para então procurar uma forma de incriminá-lo.
“As palavras ditas por aquele senhor do Ministério Público do Paraná, à minha primeira leitura, me despertaram nojo, por saber que um funcionário público abandona tudo aquilo que está escrito no texto constitucional, nos regulamentos do exercício da função pública, e, soltando risada com aquele “kkk” no final, diz “não, mas nós precisamos encontrar alguma coisa; é preciso fazer uma busca e apreensão simbólica”. Ele nem se lembrava de que já houve, havia, no mesmo ano, uma busca e apreensão em minha residência”, disse Jaques.
Também apoiaram a manifestação o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB–PE), além de Antonio Anastasia (PSDB-MG), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Nelsinho Trad (PSD-MS) e Esperidião Amin (PP-SC).
Em sua fala, o líder do governo Bolsonaro defendeu o senador do PT. “Se esses vazamentos forem confirmados como verdadeiros, é algo que nos espanta da forma como se procedeu, no afã de querer incriminar e enlamear uma carreira política, uma biografia que tem serviços prestados à Bahia, ao Nordeste e ao Brasil. Minha solidariedade ao senador Jaques Wagner”, disse Bezerra.
A conversa que causou indignação ocorreu em 24 de outubro de 2018. Dallagnol perguntou aos colegas: “caros, Jaques Wagner evoluiu? É agora ou nunca… Temos alguma chance?”. O procurador Athayde Ribeiro Costa respondeu que os primeiros pedidos de quebra de sigilo do petista foram negados pela Justiça, mas a força-tarefa ia “pedir reconsideração”. “Isso é urgentíssimo”, rebateu Dallagnol, ressaltando que o Ministério Público Federal só poderia fazer buscas em endereços ligados a Jaques Wagner antes da posse como senador, o que ocorreu em fevereiro.