Educação no Brasil: 10 tendências para a próxima década
Até 2030, especialistas preveem crescimento da robótica no ensino
O que esperar da educação no Brasil nos próximos 10 anos? A pandemia da Covid-19 acelerou transformações no ensino, que passam, necessariamente, pelo uso de tecnologias. Até 2030, materiais didáticos virtuais, chatbots, simuladores e até mesmo laboratórios remotos e hologramas poderão enriquecer a aprendizagem, revela estudo Insights – Tecnologia Educacional: eventos emergentes e incertos até 2030, do Observatório Nacional da Indústria.
“A necessidade do ensino à distância mudou a relação dos alunos e dos profissionais de educação, acelerando a adoção de recursos tecnológicos no ensino. No caso do Sesi e do Senai no Paraná, vemos esse movimento muito positivamente, uma vez que o nosso objetivo maior é que a formação dos nossos alunos esteja pautada nas demandas do mercado, considerando a realidade e os desafios que vão encontrar atuando na indústria”, analisa Giovana Punhagui, gerente executiva de Educação do Sistema Fiep.
Além dos recursos tecnológicos, uma das tendências é que deve-se ampliar o leque de competências técnicas e socioemocionais a serem desenvolvidas. Pensamento computacional, programação e robótica tornam-se fundamentais para lidar com situações-problema da vida moderna. As tecnologias da informação e comunicação (TICs) deixam de ser uma área isolada para ser um conhecimento transversal, que impacta as profissões de praticamente todos os segmentos.
E, se ainda restam dúvidas sobre a capacidade do sistema educacional brasileiro, principalmente o público, incorporar todas novidades em um intervalo de dez anos, uma questão é consenso e urgente: o aluno precisa ganhar mais autonomia e protagonismo. O estudante do século XXI deve assumir papel ativo na busca e na construção do conhecimento, enquanto professores e instrutores tendem a atuar mais como mediadores e facilitadores.
Squads e laboratórios de prática na formação para o trabalho
Em relação às metodologias mais adequadas para esse novo perfil, destacam-se a realização de atividades por projetos e squads, principalmente na educação profissional, de jovens e adultos. Esse modelo, já adotado no mercado de trabalho, tem como base a organização dos estudantes em pequenos grupos multidisciplinares com objetivos específicos. Futuramente, pode chegar a substituir integralmente o formato das turmas em sala de aula que conhecemos hoje.
Aliás, a sala de aula – primeira imagem que vem à cabeça quando falamos de educação – será impactada com a flexibilização do tempo e espaço. A mudança não se restringe ao ensino híbrido ou remoto como a gente conhece e os quais fomos obrigados a adotar durante a pandemia.
Os alunos poderão definir o percurso educacional, o que inclui os conteúdos e disciplinas a cursar; terminar a formação no seu tempo; e agendar atividades presenciais conforme a disponibilidade. Com isso, o estudo personalizado, ou adaptativo, ganha força; e as salas tradicionais tendem a ser substituídas por laboratórios de prática.
Pesquisa ouviu 32 especialistas
Trinta e dois especialistas em educação ouvidos pelo Observatório listaram mudanças com potencial de crescimento e desdobramento e hipóteses ainda sem confirmação – as quais o estudo chamou de “eventos emergentes” e “eventos incertos” respectivamente.
Trata-se de um estudo prospectivo inédito considerando o contexto educacional brasileiro até 2030. A maioria dos especialistas são dos departamentos regionais e nacionais do Serviço Social da Indústria (SESI), de educação básica, e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), de educação profissional; mas há representantes de universidades, escolas, de município e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Iniciativas consolidadas e em fase de implementação
O Sesi e o Senai já têm consolidadas ou em fase de implementação muitas das práticas listadas. Tanto os alunos do ensino fundamental e médio quanto os de cursos técnicos participam de ações de gamificação. Minecraft, SEPPO, KAHOOT (integrado ao Google Classroom) e a plataforma SENAI Play, que trabalha com sistema de recompensas, badges e vidas, são alguns exemplos.
Na educação básica, destacam-se as aulas e as competições de robótica para crianças a partir de 9 anos e a incorporação de material didático digital, do pensamento computacional e de programação no currículo.
Já na educação profissional, o Senai é pioneiro no uso de simuladores, de realidade virtual e aumentada, e laboratórios remotos, em que o aluno realiza comandos e interage com equipamentos a quilômetros de distância. É por meio de um aplicativo de realidade virtual que os alunos de cursos técnicos fazem algumas provas práticas do Sistema de Avaliação de Educação Profissional (SAEP).
Investimento na educação do futuro para reduzir desigualdades
Além disso, existem iniciativas para aplicação de holografia com hololens, de estudo adaptativo e de chatbots e de tutores inteligentes – o que o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi, destaca não substituem o docente, são apenas um suporte. Ele também alerta que, com os jovens conectados e a vida pessoal e profissional mediada por recursos tecnológicos, as instituições de ensino não devem sustentar por muito tempo o modelo educacional do século passado.
“Da mesma forma que a tecnologia traz avanços, ela pode aprofundar as desigualdades sociais e econômicas, internamente e em comparação com outros países. Pensar e investir na educação do futuro é uma tarefa que se soma ao enorme desafio de melhorar a qualidade da formação de nossas crianças, jovens e adultos. Mas não há escolha, precisamos buscar soluções”, defende Lucchesi.
Segundo o diretor do SESI e SENAI, é urgente destinar mais recursos à formação dos professores em novas tecnologias educacionais, ao permanente apoio pedagógico, à ampliação da oferta de equipamentos e de acesso à internet banda larga pelos alunos e pelas escolas.
Confira os 10 eventos emergentes da próxima década:
RECURSOS DE APRENDIZAGEM
1 – Incorporação de Kit didático virtual (livros digitais, dispositivos móveis, pacotes de internet) aos materiais didáticos tradicionais
2 – Incorporação de tecnologias emergentes na sala de aula, como a realidade virtual e aumentada, para criar métodos de ensino mais inovadores
3 – Utilização de tecnologias virtuais, como laboratórios remotos, simuladores digitais e ambientes virtuais interativos, que permitem reunir estudantes do Brasil e de outras partes do mundo
4 – Tutores inteligentes e chatbots no processo de ensino-aprendizagem
5 – Utilização de hologramas para organizar equipes para solução de problemas, promovendo maior interação e desenvolvimento das habilidades de cada estudante envolvido
GESTÃO EDUCACIONAL
6 – Ampliação dos ecossistemas educacionais que vão potencializar o aprendizado ininterrupto “aqui e agora”
7 – Incorporação de novos atores à educação, por exemplo, startups propondo novas soluções tecnológicas na educação.
METODOLOGIAS E COMPETÊNCIAS
8 – Incorporação do pensamento computacional, da programação e de outras competências gerais das TICs no currículo escolar
9 – Crescimento da robótica educacional, do ensino de programação e da gamificação
10 – Diluição do conceito de turmas e ascensão dos squads na Educação, nos quais os estudantes se organizam em pequenos grupos multidisciplinares com objetivos específicos
Fonte: agenciafiep