Inflação é 30% maior para os mais pobres, aponta Ipea

Famílias com renda superior a R$ 16.500 registraram aumento de preços de 7,11% nos últimos 12 meses. Para os que ganham abaixo de R$ 1.650, índice ficou em 10,05%

São Paulo – Dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na última sexta-feira (13) apontam elevação disseminada dos preços em diversos setores. No entanto, o Indicador de Inflação por Faixa de Renda do instituto revela que o aumento da inflação tem tido impacto ainda maior sobre as famílias mais pobres. Para famílias com renda mensal superior a R$ 16.500, o indicador registrou aumento de preços de 7,11% nos últimos 12 meses. Contudo, para aqueles que ganham abaixo de R$ 1.650 por mês, esse índice ficou em 10,05%, diferença de quase 30%.

A alta no custo da energia elétrica e do gás de botijão foi o principal fator que fez a inflação pesar mais no bolso dos mais pobres. Além disso, a escalada do preço dos alimentos também tem impacto proporcionalmente maior para os estratos de menor renda.

De acordo com o diretor técnico do Diesse, Fausto Augusto Junior, historicamente os mais pobres são os mais afetados pela inflação. Isso porque enquanto os preços avançam dia a dia, mês a mês, os salários são corrigidos anualmente. Além disso, a maioria das categorias de trabalhadores formais nem sequer tem conseguido recompor as perdas no poder de compra. A situação dos trabalhadores informais é ainda mais crítica.

“Os estratos mais altos, bem ou mal, conseguem substituir produtos, adiar compras. Um dos fatores que mais pesou, por exemplo, foram as passagens aéreas. Para os estratos mais pobres, o peso da alimentação, do transporte e alguns outros produtos são inegociáveis”, disse Fausto, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta segunda-feira (16). Ele citou, por exemplo, o drama das famílias que estão usando lenha para cozinhar, devido à alta no preço do gás de cozinha, reajustado 14 vezes nos últimos três anos.

Respostas

Fausto destacou que a inflação tem registrado forte aumento nos preços administrados pelo Estado, como gasolina, gás e energia elétrica. Diante disse, o governo poderia alterar o rumo dessas políticas, buscando aliviar o sofrimento dos trabalhadores pobres. E são aumentos que impactam em toda a cadeia produtiva. No entanto, em vez disso, a opção adotada é a receita “clássica” para combater a inflação, com sucessivos aumentos da taxa básica de juros, a Selic.

Contudo, ao agir para o “resfriamento” da economia, elevando os juros, a principal consequência deve ser o aumento do desemprego, que já está em níveis recordes. O que deve reforçar ainda mais a perda de poder aquisitivo da população e o encolhimento do mercado de consumo, aprofundando a crise econômica.

“O mercado está encolhendo. Estamos caminhando para um modelo que está privilegiando os mais ricos, menos de um terço da população, enquanto mais de 70% vão ficando à deriva. À deriva porque não têm política de emprego de um lado, e não tem nenhuma política para conter a elevação dos preços, de outro. A lei de mercado, que tanto se defende, só beneficia os mais ricos. Os mais pobres vão ficando cada vez mais pobres.”

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