Juristas fazem ato em apoio a Haddad: ‘Nosso partido é a Constituição’
Em São Paulo, operadores do Direito se reuniram para se opôr à “barbárie” representada por Bolsonaro e seus apoiadores que ameaçam com o ódio os valores da civilização
Representantes da classe jurídica se reuniram nesta quinta-feira (18) em São Paulo com o candidato a presidente Fernando Haddad (PT) para manifestar apoio em favor do pleno restabelecimento da democracia no Brasil e em defesa da Constituição Federal de 1988. Eles se posicionaram contra a campanha de ódio e fake news – notícias falsas – movida pelo adversário Jair Bolsonaro (PSL) e seus seguidores. “Fazemos aqui nesse momento uma opção apartidária. Nosso partido hoje é a Constituição”, afirmou o advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. “Vamos mostrar ao mundo que o Brasil continua existindo. Não vamos acordar em 1964.”
Ele afirmou que “não há que se falar em antipetismo”, que disse ser “falso”, servindo apenas para encobrir a opção de determinados grupos por um candidato que “se assume” como intolerante, repudiado até mesmo pela representante da extrema-direita francesa Marine Le Pen. Kakay ressaltou que é preciso fazer o enfrentamento “inclusive dentro do Judiciário”, ao comentar reportagem publicada pela Folha de S.Paulo que detalha crime de caixa 2 cometido por empresários pró-Bolsonaro que investiram milhões de reais em campanha de difamação pelo WhatsApp contra o PT e seu candidato. “Não queremos ganhar no tapetão, não é isso. Mas é necessário recorrer às instituições.”
No encontro, que reuniu centenas de advogados, professores e operadores do Direito em um hotel na região central da capital, foi lido o manifesto de juristas que já conta com mais de 1.500 assinaturas, intitulado Pela Democracia, Todas e Todos com Haddad!.
“Para defender a verdade não é preciso muito. Para defender a falsidade é que é preciso muito, muito e muito”, declarou Celso Bandeira de Mello, professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados juristas do país. Ele disse que “nunca imaginou” que assistiria a um confronto entre o progresso e a civilização, de um lado, e o atraso, de outro. “Já que chegou esse momento, vamos enfrentá-lo.”
Ex-presidente da OAB no período final da ditadura, o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira lembrou do dia em que acendeu uma pira, “a chama da esperança”, em 1985, junto com Haddad, então presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, que só seria apagada quando a nova Constituição fosse promulgada. “Estamos acendendo uma outra pira”, afirmou o advogado, para “iluminar a escuridão que se avizinha”.
“Perplexo e estupefato”, Mariz disse poder sentir o cheiro da “barbárie” que ameaça se instalar no país. “Esse ódio, falta de compreensão e compaixão, esse egoísmo, se estava escondido, agora está a luz do dia. É contra essa barbárie que precisamos lutar”, completou o advogado, que não disse não ser “petista”. “Nós todos somos judeus, somos mulheres, somos gays. Não aceitamos essa discriminação indecente e imoral”, afirmou o Mariz, para quem a advocacia “não é uma profissão de covardes.”
Haddad
O candidato do PT afirmou que todas as pessoas ali reunidas nem sempre caminharam juntos em outras eleições porque havia outras opções de candidaturas razoáveis que não atentavam contra os valores da Constituição e da democracia. Mas também destacou que esperava uma reação como essa da classe jurídica. “Nunca vi os juristas brasileiros se intimidarem diante de nenhuma ameaça”, saudou Haddad.
Ele afirmou que hoje “estamos diante de uma tentativa de fraude eleitoral”, ao comentar a notícia do caixa dois “criminoso” dos empresários pró-Bolsonaro. Segundo Haddad, seus adversários tentaram “liquidar” a disputa no primeiro turno para que articulações desse tipo não fossem descobertas. “Quis o destino que a verdade viesse à tona. Não são indícios, são provas. Há valores, personagens, empresários envolvidos”, afirmou o candidato, que disse temer que a Justiça e a imprensa “não cumpram suas funções constitucionais”, acuados pela onda de violência movida pelos apoiadores de Bolsonaro, estimulada pelo próprio candidato.
Haddad denunciou o “namoro explícito” de parte do empresariado com o “autoritarismo” e afirmou que a soberania nacional “nunca esteve tão ameaçada como agora”, por conta de propostas de Bolsonaro em relação à Amazônia brasileira e pelo fato do candidato do PSL ter batido continência para a bandeira dos Estados Unidos. O candidato prometeu “suar a camisa” na reta final de campanha para derrotar a ameaça representada pelo adversário e sua “camarilha”. “Tenho uma confiança enorme de que nesses 10 dias vamos resgatar o Brasil para os brasileiros”, afirmou o presidenciável, diversas vezes saudado com o grito “Brasil urgente, Haddad presidente”.
por Tiago Pereira/RBA