O flagelo do desemprego
Como torturador, ele vai te aniquilando aos poucos
*Luís Alberto Alves
A tortura física machuca a carne, como bem sabem os #presos políticos que sofreram este martírio durante o #regime militar que esteve no poder entre 1964/1985. O #desemprego agride a alma, joga a autoestima para baixo, violenta a mente 24 horas, todos os dias, com pensamentos de incapacidade e até mesmo de #suicídio.
Imagine um #maestro sem orquestra para reger? Um #general sem batalhão para comandar? #Médico cirurgião impossibilitado de fazer qualquer tipo de operação? #Professor sem alunos para transmitir os conhecimentos que absorveu durante anos de vida acadêmica? #Motorista de ônibus sem este veículo para transportar passageiros? Diretor de empresa sem nenhum funcionário para delegar tarefas? #Jornalista sem redação para escrever as suas matérias?
O #desemprego retira os teus pés do chão. Não importa a competência. Os inúmeros cursos de #qualificação e requalificação, o domínio de outros #idiomas, a experiência acumulada nos vários anos de mercado. Como torturador, ele vai te aniquilando aos poucos. Primeiro retira, lentamente, o dinheiro das verbas rescisórias, depois a tua paz, mexendo profundamente na saúde.
“o desemprego tortura o seu emocional, fere a sua alma
Metas fixadas
Você se deita na esperança de dormir, mas não consegue. As preocupações invadem os teus pensamentos: “já venceu o #cartão de crédito, chegou também a #conta de luz, de #gás, de telefone, o #IPTU,o #IPVA, condomínio, mensalidade da escola dos filhos. Final de semana precisa ir ao mercado para comprar alimentos…” A insônia vira parceira de cama, por mais que esteja cansado.
A nostalgia costuma entrar no coração do #desempregado. Ali, ela coloca o #combustível que sobe para o cérebro e logo você começa a relembrar dos tempos de bons trabalhos. A chegada de manhã, na segunda-feira, as reuniões, as metas fixadas pela diretoria naquela semana, os projetos para concluir no mês. O bate papo durante o almoço, as viagens a trabalho, os negócios concluídos…
Lembra-se dos #finais de semana, do clima que invade, principalmente os #escritórios, nas tardes de #sextas-feiras, anunciando o começo da noite, quando geralmente diversos funcionários vão aos bares para beber e conversar sobre o que aconteceu durante a semana. Enfim, recurso utilizado como terapia. Outros procuram chegar logo em casa, driblando congestionamento, ou mesmo a superlotação do #Metrô e trens…
Primeiras discussões
Outra marca cruel do #desemprego é abalar o sistema nervoso de quem engrossa o triste time dos mais de 14 milhões de brasileiros sem trabalho. Nos primeiros meses, com ajuda do #seguro-desemprego e da grana das verbas rescisórias, estes focos de incêndios são debelados. Mas como #dinheiro acaba rápido, logo surgirão as primeiras discussões domésticas com o corte de despesas: “menos tempo no #chuveiro, leite de caixinha de menor preço, assim como #arroz, #feijão, #carnes bovinas menos nobres, coxa e sobrecoxa de frango no lugar de peito, iogurte de grife fora da lista de compra, almoçar fora de vez em quando”….
Viajar nos #feriados prolongados vira carta fora do baralho. #Roupas e sapatos de marcas finas também sairão da lista de futuras compras, claro, quando aparecer algum #dinheiro extra. Filhos #adolescentes, por causa desta fase de idade, não compreenderão, e começarão a bater de frente com você e sua esposa. Afinal, para eles dinheiro é fácil de ganhar. Nunca trabalharam e suaram a camisa para obter o salário do mês.
Em nome do bom senso, o #desempregado procura, na maior parte do tempo, se manter em silêncio. Porém, a dor interior, de sentir o coração pegando fogo, a garganta seca, e até as idas ao banheiro para fazer xixi e ele demorar a sair ou mesmo nem acabar expulso do seu corpo, vai te machucando. Os teus vizinhos e parentes começam a bisbilhotar a sua vida. Perguntam se está de #home office em casa. O carro parado a maior parte do tempo na garagem é a senha de que você virou alvo do #desemprego.
Chama de fazer amor
O prazer é outro alvo atingido pela falta de trabalho. Quando você se encontra na ativa, fica contando nos dedos as horas para chegar em casa, tomar banho, jantar e logo matar a saudade junto da mulher que jurou, diante de um altar, amar até o final da vida. Quando o #dinheiro é farto na conta corrente, as barreiras não resistem aos bons presentes. Como você fica a maior do tempo dentro de casa e vê a esposa amada assumindo as tarefas, que antes estavam sob o teu comando, o emocional sentirá o baque.
Mesmo nas #noites de frio, embaixo dos bons cobertores que ainda resistem no guarda-roupa, o tesão diminui. Não por falta de amor, mas pelas preocupações. É o sentimento de #inferioridade que atinge todos os homens #desempregados. Nem o beijo, outrora caliente, é capaz de acender a chama de fazer amor com aquela mulher que entrou em sua vida para nunca mais sair. Não! Ela não deixou de ser gostosa. Pelo contrário, continua ótima, mas o teu emocional ficou de freio de mão puxado!
Igual lutador de #boxe acuado no canto do ringue, o #desempregado é golpeado pelas respostas negativas das inúmeras empresas que receberam o seu #currículo. Outras vezes, são os gerentes de #RH afirmando que o seu #currículo é muito rico, não é válido para preencher aquela vaga. Você fica envergonhado de ligar para os amigos em busca de trabalho. Começa a se tornar refém da #depressão. Deixa de acreditar no seu próprio potencial. Caso tenha passado dos 40 anos, imagina que o fim da linha chegou. É o delírio do flagelo no deserto do #desemprego.
*Luís Alberto Alves, é jornalista
lusalbertoal@gmail.com