Pais e professores rejeitam retomada de aulas presenciais sem limite de alunos
Em carta ao governo Doria, mais de 90 entidades afirmam que as redes de ensino devem fornecer condições para que os estudantes tenham aulas remotas
São Paulo – Em carta direcionada ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB) e às secretarias de Educação e Saúde, mais de 90 entidades se manifestaram contra a retomada de aulas presenciais em agosto, sem limite de alunos e com redução do distanciamento social para um metro. As novas regras foram estabelecidas em decreto publicado no início de julho no Diário Oficial do Estado. Ao flexibilizar, Doria permitiu ainda que a volta às aulas seja feita com até 100% da capacidade.
Uma decisão que, segundo a diretora do Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP), Silvia Barbára, “é fruto da pressão política” de grupos organizados sob o governo. “Como alguns grupos de pais de escolas de elite, médicos pediatras que desde o ano passado vêm pressionando pelo retorno a qualquer custo e conseguiram. As aulas presenciais foram retomadas de maneira menos intensa no final de 2020. E de maneira mais intensa a partir do ano letivo de 2021”, observa a diretora à repórter Júlia Pereira da Rádio Brasil Atual.
Neste ano, a primeira tentativa de volta às aulas presenciais em São Paulo foi em 8 de fevereiro. Mas, com o agravamento da pandemia, elas acabaram suspensas novamente em 15 de março. Conforme mostrou a RBA, durante esse período, a Secretaria da Educação registrou 4.084 casos confirmados de covid-19, 24.345 casos suspeitos e 19 mortes. Para justificar as novas mudanças, o governo anexou ao decreto uma nota técnica assinada pelo coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, Paulo Menezes. No texto, o médico levanta dados que estimam que mais de 5 milhões de crianças e adolescentes brasileiros não tiveram acesso à educação durante a pandemia.
Investimento no ensino remoto
As entidades signatárias da carta ressaltam, no entanto, que as redes de ensino deveriam fornecer as condições adequadas para que os estudantes sigam com as aulas remotas enquanto não há segurança sanitária. É o que também adverte a professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Débora Goulart, integrante da Rede Escola Pública e Universidade (Repu) e do conselho da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE).
“Ai nós temos dois problemas. O primeiro é o suporte tecnológico, o computador, o tablet, e por outro lado o serviço de internet. Do ponto de vista pedagógico, o acompanhamento de um adulto. No caso da escola presencial, o elemento que realiza isso, porque é formado para isso, é o docente e a docente. Então o que se espera, até que a gente tenha condições sanitárias para o retorno, é que as redes tivessem investido exatamente nesse processo para que os estudantes tivessem acesso ao ensino remoto. O que na maioria dos casos não aconteceu”, contesta a especialista.
Medidas necessárias
Na carta, as entidades reafirmam ainda que as medidas necessárias para a retomada das aulas presenciais com segurança, como a vacinação em massa dos profissionais da educação, ainda não foram alcançadas. O que pode colocar a vida de alunos e funcionários em risco, alertam.
“As escolas que estão detonadas. Como você vai falar em higienização se você não tem a lavagem das mãos pelo menos?”, aponta a deputada estadual Maria Izabel Noronha, a professora Bebel (PT-SP), também presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp) à Rádio Brasil Atual.
“O segundo fator é que nem todas as escolas têm uma ventilação a contento. A outra questão é a vacinação 100% dos profissionais da educação nas duas doses. Não adianta dar a primeira dose, ter 14 dias e mandar (ao trabalho presencial). Não, tem que ser duas doses com mais de 14 dias de imunização, além claro de máscara e álcool em gel. O que eu observo é que o governo está se atendo muito mais à máscara e ao álcool em gel. E não são somente esses dois equipamentos, embora muito importantes, que vão dar conta unicamente de conter a pandemia”, completa a parlamentar.