Pandemia se diferenciou por provocar maior inatividade entre mulheres, negros e jovens
Crise vivida em 2020 reduziu chances de conseguir uma ocupação no mercado de trabalho
“A diferença da crise de 2020 em relação à crise anterior, ocorrida em 2015-2016, se caracteriza não apenas por sua magnitude mas também pela intensa transição dos ocupados, não para o desemprego, e sim para a inatividade”, esta é a conclusão do estudo intitulado ‘Desigualdades no mercado de trabalho e pandemia da Covid-19’, de autoria dos pesquisadores Joana Simões Costa, Ana Luiza Holanda Barbosa e Marcos Hecksher lançado, nesta quarta-feira (25), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e que utilizou a base de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo avalia que a pandemia da covid-19 aprofundou as desigualdades sociais entre grupos considerados vulneráveis, como jovens, negros e mulheres, e ampliou a taxa de inatividade dessas pessoas no ano de 2020. “Houve aumento do desemprego, mas foi a inatividade o indicador que mais se elevou. Crises anteriores estavam marcadas pelo aumento do desemprego. Mas esta por suas características específicas associadas à pandemia significou uma saída do mercado de trabalho para a inatividade. O aumento da inatividade levou à uma queda da taxa de participação a níveis bastante baixos”, considerou Joana Simões Costa, uma das autoras do estudo.
Segundo ainda a pesquisadora, a pandemia e distanciamento social afetaram principalmente ocupações em que o tipo de trabalho não poderia ser realizado à distância. “Essencialmente, as pessoas que estavam na informalidade foram as que mais perderam seus postos de trabalho. Como sabemos grupos como os jovens, as mulheres e os negros apresentam maior taxa de informalidade, o que significa que foram os grupos mais vulneráveis à crise”, afirmou. O estudo ainda chama atenção para o fato de que, em 2020, foram reduzidas as chances de se conseguir uma ocupação. “Essa redução da porta de entrada ao emprego ocorreu de forma generalizada e afetou especialmente jovens, negros, e mulheres”, concluíram os pesquisadores.
Mulheres
O estudo nota que as mulheres já apresentam grande desvantagem nos indicadores de participação do mercado de trabalho e a desigualdade se manteve. A situação das mulheres ficou ainda mais exposta e a proporção de ocupadas entre o total de mulheres chegou a um patamar pouco abaixo de 40%. A diferença em relação aos homens significa um pouco menos de 20 pontos percentuais (p.p.). Ao longo do período entre 2012 e 2019, as mulheres já mudavam mais que os homens da situação de ocupada para inativa, e também possuíam menor taxa de entrada nas ocupações. Em 2020, os reveses sofridos nesses indicadores mantiveram a elevada desigualdade.
Para a pesquisadora do Ipea, a atual crise apresenta características específicas que afetaram mais as mulheres. “O distanciamento social impossibilitou o funcionamento das escolas e creches e também dificultou o acesso às redes de apoio informais para os cuidados de crianças, tal como auxílio das avós e vizinhas. Esses são fatores que acabaram prejudicando mais às mulheres que necessitam dessa estrutura para o cuidado de seus filhos enquanto trabalham”, explicou.
Negros
Entre os negros e brancos, o levantamento indica que há diferenciais importantes na taxa de desemprego e na proporção de ocupados e que ambas as crises de 2016 e de 2020 contribuíram para um aumento desses diferenciais por cor/raça. Por exemplo, a diferença em p.p. na proporção de ocupados brancos era 2,4 maior em 2015 e alcançou 5,3 em 2020. Isso resulta do fato de que tanto o aumento na transição para desemprego/inatividade, quanto a redução na entrada para ocupação, foram um pouco mais intensas entre os negros em 2020.
Jovens
Em relação aos diferenciais por idade, vale destacar a comparação entre os grupos etários de 19 a 29 e 30 a 59 anos. Há relevantes diferenças no desemprego e na ocupação, e ocorreu elevação da desigualdade em ambas as crises. A proporção de ocupados entre os adultos era 7,3 p.p. acima dos jovens em 2015, diferença que se elevou para 12,3 em 2020. No ano da pandemia, também chamou atenção o fato de que, para os jovens, a redução nas chances de conseguir um emprego ocorreu de forma mais intensa.
Fonte: ipea.gov.br