Paulo Guedes oscila porque governo Bolsonaro não tem plano econômico
Para Miriam Belchior, ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão no primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014), é um contrassenso a ideia de fusão ou “parceria” entre o Banco do Brasil, o maior banco brasileiro, com o Bank of America. A ideia se tornou pública na quarta-feira (7), por meio de Paulo Guedes futuro ‘superministro’ da Economia do governo de Jair Bolsonaro. “Não consigo entender. Todo mundo diz que é necessário ampliar a concorrência bancária do Brasil, porque quatro bancos concentram 80% do crédito”, diz a ex-ministra.
“No momento em que a gente acha que tem que ampliar o número de bancos, eles vêm falar de fusão de um banco americano com o maior banco público brasileiro, o Banco do Brasil, responsável pela enorme maioria do crédito à área rural, tanto para grandes como para pequenos produtores”, acrescenta.
Segundo dados do Relatório de Estabilidade Financeira Banco Central de abril, em 2017 os quatro maiores bancos do país (Itaú-Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) concentraram 78,51% do mercado de crédito e 76,35% dos depósitos de correntistas.
Para ela, outra ideia do futuro governo de Jair Bolsonaro, esta já considerada certa, de fundir os ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Indústria, é apenas mais uma de um conjunto de mudanças anunciadas cujo objetivo é claro: “O que está por trás disso é uma visão de Estado mínimo, de quem acha que não cabe nada ao Estado brasileiro fazer pela população, de quem vai aprofundar o ajuste fiscal, indo além da tragédia que é o governo Temer”.
Apesar de anúncios e ideias de Bolsonaro e Guedes, não se pode prever o que será feito, já que “se propõe uma coisa e depois se volta atrás, e depois volta a propor a mesma questão”. “A gente não sabe o que vai acontecer. A cada hora se fala uma coisa”, afirma Miriam. “Ele (Bolsonaro) está atirando para tudo quanto é lado e só prejudicando ainda mais a imagem do Brasil.”
Como avalia a fusão ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Indústria?
Temos que olhar o conjunto dessas mudanças. Essa é só uma delas. O que está por trás disso é uma visão de Estado mínimo, de quem acha que não cabe nada ao Estado brasileiro fazer pela população, de quem vai aprofundar o ajuste fiscal, indo além da tragédia que é o governo Temer, e vai tirar os poucos recursos que sobraram das diversas áreas, inclusive saúde e educação. Mas não faz muita diferença para quem acha que tudo é o privado, quando a gente sabe que há uma série de áreas onde o privado não entrará.
A fusão representa algo irrisório, em termos de economia, no Orçamento. Nem para isto serve. Em relação à fusão dos ministérios do Planejamento, da Fazenda e da Indústria e Comércio, também é deixar na mão de uma pessoa só para tomar conta de um conjunto muito grande de questões. E com uma postura autoritária, como a gente viu em entrevista recente do chamado superministro, em que ele diz ser preciso “prensar” o Congresso para aprovar.
Ou seja, não respeita o poder Legislativo, porque acha que pode tudo. Não é uma boa decisão para o futuro e o desenvolvimento do país (na terça (6), Guedes pediu uma “prensa” aos parlamentares para aprovar a reforma da Previdência. No dia seguinte, Bolsonaro disse que era falta de experiência política do auxiliar).
Foi anunciada a intenção de o Banco Brasil ser incorporado ou se fundir com o Bank of America. Que consequências isso poderia trazer, do ponto de vista do planejamento e desenvolvimento do país?
Não consigo entender. Todo mundo diz que é necessário ampliar a concorrência bancária do Brasil, porque quatro bancos concentram 80% do crédito. No momento em que a gente acha que tem que ampliar o número de bancos no país, vêm falar de fusão de um banco americano com o maior banco brasileiro, o Banco do Brasil, responsável pela enorme maioria do crédito à área rural, tanto para grandes como para pequenos produtores.
Certamente os pequenos seriam prejudicados com uma fusão como essa. É um contrassenso em relação ao discurso que tem sido feito sobre a necessidade de aumentar o número de instituições do sistema bancário.
O que se pode esperar do desenvolvimento e crescimento e PIB do país, considerando o cenário, fusões de ministérios etc.?
Não sou economista, mas acho que esse vai e vem – em que se propõe uma coisa e depois se volta atrás, e depois volta a propor a mesma questão –, não é positivo para o ambiente econômico. Provoca oscilações e a gente vê isso acontecendo na Bolsa, e também em relação ao valor do dólar.
O Brasil precisa de equilíbrio, segurança e propostas claras. Do mesmo jeito que ele não deixou claras as propostas para a economia, porque não tinha propostas, agora é a mesma coisa: é um vai e vem permanente. Isso pode provocar retração dos investidores.
Depois aponta que vai se afastar da China. Onde já se viu? É um dos nossos maiores parceiros comerciais. E, depois, a mesma coisa em relação à aproximação com Israel, que pode prejudicar toda a nossa balança comercial com os países árabes.
Que é, inclusive, favorável ao Brasil.
Exatamente. Estão apavorando toda a nossa diplomacia, porque sabem da importância das relações que temos com esses países, os próprios exportadores da área de carne, por exemplo.
Mesmo a questão de juntar o meio ambiente com a Agricultura. Os países não vão comprar carne brasileira se a gente estiver desmatando. Esse é um elemento importante nas decisões. Preço também é importante para o comércio de commodities, mas não é só isso que conta. Ou seja, ele está atirando para tudo quanto é lado e só prejudicando ainda mais a imagem do Brasil.
O meio ambiente é importante econômica e politicamente, mas é meio relegado a um segundo plano…
É importante para o futuro do planeta e das próximas gerações, mas também é um elemento importante a se considerar nas trocas comerciais. Muitos países só vão comprar do Brasil se a gente estiver preservando a Amazônia. Essa subordinação da questão ambiental à agricultura é um equívoco. Até uma parte mais esclarecida do agronegócio sabe disso.
Se todas as medidas anunciadas pelo futuro governo forem implementadas, teria como, futuramente, revertê-las ou elas serão estruturais?
Assim como já estamos vendo os resultados da PEC do Teto de Gastos – que na verdade não é teto, são valores decrescentes de gastos públicos –, e também da reforma trabalhista na vida das pessoas, sobretudo os mais pobres, acredito que isso, aparentemente, vai se aprofundar mais em função da sede de ajuste fiscal ainda mais forte. Aparentemente porque a gente não sabe o que vai acontecer. A cada hora se fala uma coisa.
por Eduardo Marett/RBA