Toffoli escancara ‘promiscuidade’ em jantar com executivos e representante dos EUA
Jornalista Jeferson Miola analisa “cardápio” servido no encontro de poderosos em que os comensais jantaram a ética pública e a independência do Judiciário
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, foi o “convidado principal” de encontro promovido pelo site Poder 360 na última segunda-feira (26) que reuniu executivos do “PIB multinacional”, além do encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no Brasil.
Na presença de representantes da Coca-Cola, Shell, Microsoft e da consultoria McKinsey & Company, o chefe do Supremo discorreu sobre temas caros à “aristocracia judiciária”, como o aumento salarialrecém-concedido aos juízes que vai custar mais de R$ 5 bilhões por ano aos cofres públicos.
Segundo Toffoli, esse foi “o primeiro desafio complexo vencido” desde que assumiu a presidência do STF em setembro. Ele defendeu ainda acabar com o limite constitucional para os salários dos ministros da Corte Suprema. “O teto vira piso. […] O fato é que nós temos que redefinir essa questão relativa ao teto.“
Ele também fez considerações sobre o ativismo político do Judiciário, comparando com a atuação dos militares em 1964, que Toffoli já classificou como “movimento“. Também antecipou juízo sobre causas que o STF deverá apreciar em breve, como a constitucionalidade da chamada “PEC da Bengala”, responsável por elevar a idade de aposentadoria dos ministros, e que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, disse querer modificar.
Sobre o evento, o jornalista Jeferson Miola classifica como “perigosa e inconcebível promiscuidade entre o chefe do Poder Judiciário com multinacionais influentes e com o governo dos EUA”. Segundo ele, não há qualquer amparo legal “para justificar tão escandalosa intimidade”.
“Qual o critério para a seleção daqueles comensais é um mistério que o serviço do evento não deixa claro”, critica o jornalista. “O certo é que se acontecesse um jantar desse estilo em Washington, o escândalo defenestraria o funcionário público – no caso, o juiz – em poucas horas.”